terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

São Francisco de Assis

A religião de Francisco de Assis é o Amor, nas influências de Deus sob a direção de Cristo. O clima da Idade média (1180dC) era dos piores, pois o mal estava bem organizado, enganando os ignorantes em nome de Deus. Mas a presença de Jesus foi reinstalada novamente, semeando a paz entre os homens.

Certa noite Pai Francisco estendeu suas orações aos Céus, pedindo humildemente que fosse orientado para melhor proceder na vontade de Deus, e quando sua meditação entrou na fase do êxtase, ouviu a voz silenciosa, na sua consciência:

- " Francisco!... Quero que faças a vontade d'Aquele que me enviou ao mundo para organizar o Bem. E a vontade do Meu Pai que está nos Céus é que O ames sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo. Eis aí as duas chaves que abrem todas as portas da vida, senão da felicidade. Sabes o que eu quero que faças, no desdobramento destes dois mandamentos de luz.
      Já foram escritos na tua consciência os preceitos mais puros, para que vivas na dignidade de um homem que conhece a verdade, na filosofia de um discípulo consciente do seu caminho e de um filho de Deus que respeitava a vida. Dentro destas verdades poderás encontrar inúmeras ramificações que a tua criatividade espiritual te fizer sentir.
      Além disso, no propósito de renovar tuas forças e a de teus companheiros, devo esclarecer a tua mente, no tocante ao equilíbrio das emoções em todos os sentidos, organizando o Bem, sem que falte a prática dos labores de cada dia. Deves pensar e falar na Caridade, sem te esqueceres das obras, para que ela seja viva na lavoura de Deus. Deves incentivar todas as conversações nas quais o Amor seja o coração do assunto, sem te esqueceres da universalidade dessas virtudes, para que ela nunca perca o seu caráter de alimento do espírito.
      Prepara, Francisco, os teus discípulos, como te ensinei. Jamais deves esquecer dessa verdade: Quem quiser ser o primeiro, que seja o último; quem quiser ser o maior, que se faça o menor de todos. Conheço a sua perseverança nos compromissos assumidos, mas é sempre bom afirmar que ninguém realiza algo sozinho, e aquele que chefia sem liderança, quem manda mas não sabe obedecer, acaba ficando só em seu destino. Faça amigos, não pelo prazer da companhia, mas pelo dever de amar o próximo. Os iluminados são poucos e vocês serão muitos, e deveis dividir, não por vaidade, mas por inteligência, para que o Evangelho seja conhecido, com rapidez em todos os cantos do mundo.
      Francisco, prepara todos os conceitos seguros, sem pressa e nunca imponha a tua vontade. Fala com amor e alegria. fala doando atenção, que receberá vida do Grande Suprimento. Exclui das tuas conversações tudo que contradiz o Amor, que vencerás sempre. Avante!..."

      Naquela noite, Pai Francisco reuniu seus discípulos em capela improvisada, e iniciou os trabalhos de joelhos:

     - " Obrigado Senhor! Não mereço tanto. " Depois se levantaram e dividiram uma refeição, e quando todos estavam satisfeitos, Pai Francisco tomou a voz:
     - " Meus filhos do coração, tenho o dever de anunciar-vos que o Senhor quer que nos reunamos em conversações edificantes, no sentido de aprendermos uns com os outros o que for mais útil para a pregação da Boa Nova do Reino de Deus. Se estiver do agrado de todos, eu sugiro que comecemos hoje, agora, sendo a inauguração da nossa primeira igreja de Assis, casa de Deus essa feita pelas vossas próprias mãos.

      Frei Leão e Frei Luiz adiantaram-se espontâneos e disseram:
      - " Frei Francisco, não disseste para nós que quando errasses, poderíamos chamar-te a atenção, e se fosse o caso, agredir-te, e à força colocar-te no lugar certo?

     Surpreso, Pai Francisco confirmou como verdadeiras as palavras dos Freis.Os frades, em segredo, tinham feito uma cadeira de cipó, para que o primeiro entre eles pudesse falar confortavelmente, sem que seu corpo reclamasse cansaço. À força, pegando pelos braços, os Freis colocaram Pai Francisco sentado na posição de destaque, e apesar de contrariado, sorriu e agradeceu a generosidade de todos. A almofada, porém, Pai Francisco ofertou a Frei Masseu, pois sofria de problemas para sentar.
      O ambiente era de serenidade e respeito de uns para os outros. Era a verdadeira casa de Deus, onde aqueles homens simples estavam reunidos para a grande tarefa de aprendizado, para romper os maus hábitos humanos, e fazer conhecido o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, em espírito e verdade. Frei Leão, nobre secretário, e Frei Luiz, que antes chamava Shaolim, possuidor do dom de Deus na memória fotográfica, Sabia de cor toda a Bíblia, por página, capítulo e versículo.
      - Frei Leão: "Pai Francisco!... Qual o dever de mais urgência que temos para com Deus?"
      - "O dever de mais urgência para com Deus é amá-Lo sobre todas as coisas, na mais profunda sinceridade, e no reto dever e na reta consciência, na reta compreensão, no reto entendimento e na reta moral; no reto perdão, na reta caridade e no reto desprendimento; na reta pobreza e na reta humildade; na reta paciência, na reta amizade, e sempre pensarmos nos outros, nos colocando no lugar dos outros.
      - Frei Masseu: " Pai Francisco!... E os compromissos assumidos com o próximo, pela consciência?"
      - Meu filho!... O maior compromisso com o próximo é aquele que temos com nós mesmos e com Deus. Jesus Cristo nos ensina condensando os dez mandamentos em apenas dois: " Ame a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo." Não podemos viver sós. Mesmo que não vejamos o próximo, ele está constantemente nos ajudando, de diversas formas, e por vezes sem exigir recompensas. Deus nos fez interligados uns aos outros pelo Seu Amor, de forma que sem o próximo ficamos sem amor.
       O amor é o centro da Vida, na Vida de Deus. Ninguém poderá amar o próximo por interesse, pois é na caridade que encontramos verdadeira felicidade. O interesse de Jesus a levar o Evangelho a todos é porque Ele ama a todos nós. Entretanto existe aquele próximo que dorme na ignorância das coisas de Deus, que carece de muita compreensão e da nossa assistência, do nosso perdão e da nossa convivência. É para vivermos junto a eles, amando-os na mais alta expressão dos sentimentos do Bem, que estamos nos preparando aqui.
      - Frei Egídio: "Pai Francisco!... Em que posição devemos ficar, quando a nossa família não compreende nossa missão fora do lar?"
      - Frei Egídio, temos para com a nossa família um dever maior. Sendo ela o próximo mais próximo, junto a ela podemos escutar e sermos ouvidos. As responsabilidades que temos com nossa família é uma grande oportunidade de trabalho e de realizações. A pregação do Evangelho dentro de casa é muito mais simples, pois além das palavras temos os exemplos, de perdão e caridade.
       Na família, honramos Pai e Mãe, corrigindo os erros e imperfeições de todos mutuamente. O lar construído nas bases do amor e humildade, será a melhor escola para o mundo, executando o verbo na função do Bem. Ninguém perde por ficar "preso" no lar, pelo contrário, ele ganha muito. Basta que haja diálogo e compreensão. Lembra-se do exemplo do Mestre, que teve de sair do lar para executar sua missão. O lar do Mestre somos todos nós, e em Deus Pai somos todos irmãos.
      Cada um de nós somos únicos, e temos diferentes destinos traçados por Deus. Assim que compreendemos isso, Deus passa a se encarregar de nós.
      - Frei Lucílio:" Irmão Francisco!... Por Deus, poderia nos expor o que constitui a caridade para com nós mesmos?"
      -  Essa caridade é necessária não por prazer, mas porque nos prepara para melhor servir aos outros. Se um soldado precisa de treinamento em armas para vencer o inimigo, mais ainda nós soldados de Deus, pela sua Misericórdia. É necessário o pleno domínio do Evangelho para combater o mal com velocidade e certeza, é preciso que sobrem recursos para movimentarmos a caridade para aqueles que necessitam.
      Quem não estudou, como pode ensinar? Quem não perdoou como pode exigir o perdão? Quem não venceu sua ganância como pode fazer caridade? Devemos sentir e viver por tudo que queremos ensinar.
      A caridade sem egoísmo é contrariar toda a lógica inferior, através da disciplina e da fé. A caridade cultivada no coração é a porta aberta para receber as bênçãos de Deus, e caminho para a verdadeira felicidade.
      - Frei Arlindo:" Desejaria saber, Pai Francisco, acerca da caridade para com os outros."
      - A caridade verdadeira não exige recompensa, para não perder a alegria; não ofende, para não perder a paz; não violenta, para não perder o equilíbrio; não amaldiçoa, para não perder a bondade; não arde em ciúmes, para não aborrecer ninguém; não duvida de Deus, para não perder a esperança. Cumpre seu dever até o fim para não ser julgada pela consciência.
      A caridade começa no respeito à vontade dos outros, e seus direitos, ajudando naquilo que ela aceita ser ajudada. Ela é o sol de Deus que nunca se apaga.
      - Frei Rufino:" Pai Francisco!... Por gentileza, poderia o senhor nos dizer o que é desprendimento verdadeiro?"
      - Frei Rufino, é a liberdade. Nenhum espírito gosta de ser preso, nem mesmo animais. Todos desejam a liberdade. Porém a vida na Terra nos impõe certas prisões. Enquanto não despertarmos para o Amor de Deus, seremos escravos da ignorância dos homens.
       Desprendimento não significa jogar tudo no lixo. Significa usar a inteligência para que a caridade tenha seu melhor efeito. Jesus disse certa vez:" Não devemos atirar pérolas aos porcos", de forma que a caridade tem suas limitações, demais ou de menos ela não faz o efeito benéfico que nosso coração deseja.
       Pode perfeitamente existir rico caridoso, e o pobre egoísta, pois a ganância nasce dentro do coração das criaturas e devemos recusá-la. Desprendido é aquele que sabe dar, pois é dando que se recebe. No entanto fazer a caridade de forma correta é ciência pensada, pois a caridade feita errada gera dívida e acrescenta frustração e inveja. A caridade é a virtude dos anjos, santos e homens evoluídos, é a base de todos que vivem por Cristo, para que Deus viva através de nós.
      - Frei Gil:" Frei Francisco, pai de todos nós que aqui nos reunimos!... Se for do teu agrado, gostaria de saber o que é a pobreza de que tanto falas."
      - Na essência Cristã, a pobreza é a verdadeira felicidade. A riqueza material é pura ilusão. Ela traz problemas que são difíceis demais para os homens resolverem, que na sua ignorância idolatram o dinheiro acima de Deus, fazendo o desserviço de espalhar as trevas sobre nossos irmãos. Vocês devem entender que existem muitos pobres ricos, e muitos ricos pobres. Nós amamos a pobreza pelo ponto de vista do materialista, mas somos ricos pois fazemos circular as riquezas que Deus nos deu por entre os homens.
      Nas outras religiões a pobreza é mal a ser evitado, mas aqui nós a abraçamos, para não nos distraírmos com as coisas do mundo e nos dedicarmos completamente às coisas de Deus. Nossa missão é ser esse contraste. Nós damos tudo de nós para que os nossos irmãos possam se sentir inspirados a dar um pouco deles mesmos, começando a se acostumar com a caridade.
      Nosso Mestre Jesus Cristo foi o homem mais pobre de todos, pois como ele mesmo declarou, não possuía nem mesmo uma pedra em seu nome para reclinar a cabeça. Tudo que os cristãos usam são propriedade emprestada de Deus, pois toda a criação material é criação de Deus. Jesus Cristo foi o homem mais rico de todos, pois a doação espiritual é sinônimo de liberdade Espiritual. O maior tesouro do espírito é dado por Deus, no Reino dos Céus, é a consciência limpa e tranquila.
      - Frei Bernardo:" Pai Francisco, o que poderemos entender sobre instrução?"
      - Frei Bernardo, a instrução da alma é a vivência. Quem não vive, não experimenta e não aprende. Deus nos abençoa com o aprendizado para libertarmos o nosso coração das trevas, iluminando a ignorância e fortalecendo os sentimentos do Bem.
      Porém é necessário mais do que simples saber, que reside na cabeça, longe do coração. Para o saber penetrar o coração, é necessário a experiência, o bom senso, a análise vigilante da inteligência, pois esse é o caminho da iluminação. Devemos ter no coração como inteligência primeira as Leis de Deus, que todo o saber deve edificar o Bem nas nossas vidas.
      - Frei Ângelo:" Pai Francisco!... O que poderíamos entender por educação?"
      - Educação, meu filho, é o tesouro da evolução espiritual. Onde a ignorância se manifesta, não existe educação. Ela se manifesta mais intensamente no coração humilde que respeita o direito alheio. Muitas vezes confundem-se instrução com educação. São forças paralelas, de objetivos idênticos. Para entregar-se o homem à tranquilidade de consciência, a educação precisa da sabedoria, e vice versa. Na instrução a criatura precisa de mestres e livros que lhe acrescentem experiências de vida. Na educação, o mestre é o tempo vivido, e os livros apenas valores que serão julgados pela consciência.
      Educar é a nossa meta, mas primeiro devemos educar a nós mesmos, para depois ajudar os outros pelo exemplo. A humanidade precisa de milhares de anos para se educar e tomar consciência que o Amor é vida, buscando luz para a alma. No entanto, a educação sem conhecimentos vividos provoca atrofia dos sentimentos. É por isso que a natureza é binária: homem e mulher, dia e noite, claro e escuro.
      - Frei Juníparo:" Pai Francisco!... Desejaria conhecer o valor da cortesia!"
      - Caro irmão! A cortesia é aprimoramento da alma. De qualquer modo que ela se manifestar, ela é filha da boa educação edificada no Amor. O homem polido não maltrata, não fala mal, desperta a esperança e constrói amizades. É a caridade de quem já despertou para o Bem.
      -Frei Elias:" Pai Francisco, se fosse possível, gostaria que o senhor falasse sobre amizade."
      - Apóstolo Pedro nos serviu de exemplo dizendo:" Deveis todos fazer amigos, pois a amizade verdadeira ser-vos-á luz em todos os caminhos para a eternidade". A amizade é a estrada por onde o amor transita, é através da amizade que dois corações se abrem e trocam amor. Devemos novamente lembrar do Mestre dizendo:" Amai a Deus sobre todas as coisas, e amai uns aos outros igualmente". Se os homens se amassem, se fossem todos amigos, de verdade, A Terra se transformaria no Céu, e nada faltaria, e ninguém seria pobre, e nenhum mal seria eterno.
      - Frei João:" Pai Francisco!... Seria bom para todos nós ouvirmos a tua palavra acerca da verdadeira propriedade."
      - Frei João!... Trouxeste um assunto importante, pois a verdadeira propriedade deve ser trabalhada. Devemos acumular bens na nossa consciência, aqueles que nunca estragam, aqueles que recebemos pelo esforço do dia, pela educação, pela instrução, pela disciplina, pela dor, pela solução dos problemas.
      As propriedades do mundo são enganosas, porque são regidas pelas ignorâncias humanas. O verdadeiro sábio não é escravo do ouro e não desfaz sua dignidade conquistando fortuna através de imoralidades.
      Não estamos desprezando o ouro do mundo, pois é poder que movimenta. Devemos direcionar esse movimento para o bem, para a evolução das almas até Deus. Tudo no lugar certo é bênção de Deus, e tudo no lugar errado é dor e sofrimento. A verdadeira fortuna é o bom senso, cordialidade, saber ouvir, entender sem ferir, trabalhar por amor, falar ajudando, recusar o egoísmo e a vaidade que impedem seus movimentos do coração. A verdadeira fortuna do Bem aumenta quanto mais as distribuímos, quanto mais nos movemos, ao contrário da fortuna do ouro, que é morta e fica parada, amaldiçoada pelo egoísmo.
       - Frei Boaventura:" Frei Francisco!... Estou ansioso para ouvir-te sobre o sexo."
      - Irmão Boaventura!... Desejamos a paz de Deus para todos os corações. Devemos saber encontrar as virtudes no meio dos desastres morais. Meu filho!... O sexo consentido é um gerador de energias divinas na sua estrutura básica. É através do sexo que a vida se manifesta na Terra, seguindo a própria natureza.
      Sempre vamos encontrar irmãos incapazes de controlar seus desejos sexuais, apesar de alguns já terem dominados outros instintos animalescos, como a violência e o medo da morte. O sexo insaciável, em forma de vício, não respeita os direitos dos outros, criando problemas, desmanchando lares e desfazendo amizades. O sexo serve a Deus para trazer ao mundo nova esperança, na forma de constituir famílias que compartilham o amor do coração. Expomos tais regras apenas para melhor servir a humanidade. Quem tiver responsabilidade para sua família, deverá ouvir sua consciência e respeitar a obrigação confiada por Deus. Não maldizemos sobre o sexo, não condenamos. Mas é fato sabido que o homem evoluído sabe controlar todos os seus impulsos, ele é dono de si mesmo, e somente faz o necessário quando lhe for mais oportuno.
      - Frei Filipe:" Irmão Francisco!... Seria bom para todos nós se soubéssemos algo mais sobre o perdão."
      - O perdão abre as portas para a verdadeira felicidade, e liberta nosso coração da opressão da consciência. É tão divino, que nos dá condições de esquecer as ofensas, conquistando amizades. Quem consegue perdoar está entendendo o bem-estar espiritual. Pratica a Caridade consigo mesmo. Quem perdoa está trabalhando em nome de Deus.
      O perdão é a paz, o perdão elimina completamente qualquer oportunidade de instalar o mal nas nossas vidas. O perdão é simplesmente escolher plantar o amor, para a vitória do Bem.
      Muitas vezes nos ofendemos por ataques inesperados dos irmãos que atravessam nossos trabalhos. Mas o Evangelho contém todo o perdão que precisamos para sermos livres do ódio, para que cresça dentro de nós a verdadeira felicidade. Perdoa e será compensado; perdoa e seu desejo será atendido; perdoa e será forte na batalha contra o mal; perdoa e será iluminado pela graça da misericórdia Divina.
      - Frei Cândava:" Pai Francisco!... Desejaria ouvir alguma coisa no que tange à felicidade."
      - Aqui na Terra, por enquanto, é apenas um sonho. Temos apenas uma vaga idéia da felicidade. Depende de todos nós, pois ninguém é feliz sabendo que o irmão sofre. A felicidade é conquistada quando a consciência de nossa bondade nos permite. A felicidade não pode ser comprada nem vendida pois ela não é mercadoria material, a felicidade é o conjunto das virtudes presentes no seu coração.
      A felicidade é o prêmio da guerra vencida. Nosso inimigo não é outro senão nós mesmos. Devemos vencer o nosso ódio, vencer o nosso egoísmo, vencer a nossa vaidade, vencer a nossa inveja e nosso ciúme, vencer o nosso orgulho. A batalha é diária e ocorre no terreno sagrado de nosso coração.
      Muitas criaturas se dedicam às felicidades temporárias dessa vida, mas a verdadeira felicidade não é instantânea, ela demora tempo para ser fermentada. Uma vez conquistada, a verdadeira felicidade não pode ser tirada de nós, pois ao contrário, sentiremos tanta que ela explodirá de dentro de nós, e sentiremos muito prazer em doar felicidade, a todos que necessitem de caridade.
      - Frei Pedro:" Pai Francisco, se fosse agradável ao senhor, eu desejaria conhecer a utilidade do prazer."
      - Depende da alma, e por isso nasce em nós a necessidade de perdoar. O prazer do guerreiro é matar na guerra. O prazer do comerciante é acumular todas as riquezas para si. O prazer do camponês é ocupar terras maiores, e levar vida mais confortável, e trabalhar menos. O prazer do político é dominar os povos, escravizando a sua vontade. O prazer da mãe é ver seus filhos em paz. O prazer do tribuno é falar bem e ser famoso. O prazer do escritor é ser o best seller. O prazer do ladrão é o ouro. O prazer é infinito e individual.
      Compartilhamos o mesmo prazer que sentia Jesus Cristo, servir a todos semeando o bem por todas as terras em que pisamos. Temos grande prazer em ouvir os problemas das pessoas que sofrem e lhes oferecer soluções baseadas no Evangelho. Temos prazer em recebermos críticas, para podermos ser pessoas melhores. Temos prazer em respeitar os diferentes caminhos que levam a Deus, sem impor as nossas verdades com violência. Temos prazer em sermos livres do materialismo. O prazer guia igualmente todas as almas, portanto o sofrimento igualmente atinge a todas as almas. Não devemos nos basear somente no prazer, mas sim na consciência e no Evangelho.
      - Frei Silvestre:" Pai Francisco!... Se for oportuno, eu queria compreender melhor o porque dessa urgência de pregar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, se a Igreja Católica já o faz há mais de mil anos."
      - Essa igreja lutou com todas as suas forças contra o mal que queria extinguir o amor do Evangelho da terra. Mas para atingir tal objetivo, ela foi obrigada a se unir ao Estado político, para se tornar legítima entre os homens e para parar toda a perseguição contra os Cristãos. No entanto essa união que antes tinha a intenção de promover a paz, agora (em 1180, Cruzadas) é motivo da guerra e do sofrimento dos irmãos de outras políticas e filosofias. Eles, antes mortos em nome de Cristo, agora promovem matanças em nome de Deus e Cristo, cometendo o pecado da vingança.
      Os dirigentes da igreja perderam as condições de pregar o Evangelho, e se sentem ofendidos pelas palavras do Mestre. São ensinados desde pequeno a idolatrar o orgulho, a vaidade, a prepotência, o crime em nome de Deus. A maioria concorda em idolatrar o ouro e o poder acima de Deus, falando em seu nome.
      Estamos aqui (Cristãos reformados) para reerguer a igreja do Senhor nos fortes alicerces do Amor e da Caridade, pois sem compreender o amor dentro do coração, as palavras do Mestre não fazem sentido nenhum. É impossível falar do amor sem senti-lo ardendo no coração, é impossível exigir caridade sem viver o seu exemplo. Não existe paz sem perdão.
      Somos ovelhas no meio dos lobos, e nossas práticas irão prejudicar a vida material que eles com tanto esforço construíram. Devemos relembrar o Evangelho primitivo, que graças a Deus foi bem conservado e não perdeu sua essência Divina. Não devemos julgar as pessoas e as instituições que se firmaram nesse mundo, pois são exigências da caridade e do perdão. Será através de nosso exemplo que eles enxergarão a verdade.
      - Frei Rogério questiona sobre a definição da consciência.
      - Veja a alma como se fosse uma espiga de milho. A espiga é protegida por várias camadas de palha sobrepostas. No centro o sabugo rígido sustenta os grãos. Se compararmos um sabugo com a consciência, se nossa consciência for torta e doente, os grãos não se desenvolverão de forma adequada, e a colheita de Deus será prejudicada. A consciência é um domínio da nossa consciência que Deus fala diretamente com nossa alma, nos guiando no melhor caminho.
      - Frei Tancredo questiona a separação dos homens e mulheres.
      - " A diferença entre homens e mulheres é um recurso empregado na Natureza de Deus para atrair os opostos, para que aprendam as virtudes que ainda não possuem, e para que não se justifique a ignorância como sendo fator de gênero. Deus fez todas as almas iguais, mas percorremos caminhos evolutivos diferentes, devendo nos unir como um em matrimônio, para a saúde da família. Com o tempo, as diferenças serão diminuídas, e a inteligência se encarregará das emoções.
      No seio da família o amor é unido às forças sexuais do casal, mas aqui na comunidade religiosa devemos saber dominar o amor na sua forma mais pura, o amor a Deus e tudo que parte Dele. Por isso não devemos nos unir às nossas irmãs de culto, porque não dominamos ainda os nossos pensamentos, e corremos risco de perder a liberdade da alma. Estamos separados fisicamente, mas nossos espíritos são unidos no amor a Deus, até que tenhamos domínio suficiente dos impulsos primitivos do sexo para podermos trabalhar o bem sem influências dos vícios.
      Seria possível para homens e mulheres casados em matrimônio e permanecerem fiéis a Deus em sentimento, mas é uma virtude conquistada pelas almas mais desenvolvidas que entra em contradição com a natureza da sabedoria. A sabedoria nos diz que a atividade cerebral mais intensa ocorre na vivência do dia-a-dia, no trabalho, na solução dos problemas. Igualmente sabemos que a verdadeira felicidade nasce dentro do coração, e não é temporária. Portanto a necessidade de se obter um prazer temporário assim como um orgasmo indica a ausência da felicidade no coração. Assim, se a falta de sexo for motivo de sofrimento, poderá se resolver facilmente esse problema no matrimônio, mas que este não seja o único motivo, pois o casamento é a responsabilidade e é a aliança que nunca pode ser traída, pois é assim que se apresenta a Natureza de Deus.
      - Frei Diogo indaga sobre respeito.
      - Respeito é o ambiente dos nossos pensamentos. "Conhece-te a ti mesmo, que o resto te será revelado". Lembremos Paulo de Tarso escrevendo aos Romanos 14:14
      " Acolhei o que é débil na fé, não porém, para discutir opiniões." Acolher aquilo que te desagrada é uma demonstração de caridade. Se dermos respeito, seremos motivo de respeito para com nosso próximo. Nossa verdade é como uma árvore grande demais para passar pela estreita porta da cabana, mas se dermos uma pequena semente ao próximo, ele tem a opção de plantá-la e aprenderá a amar a sua idéia, como se fosse dele.
       - Frei José indaga sobre saudade.
      - Devemos cultivar a saudade pura, confiando em Deus e aceitando a separação entre nossos destinos como vontade d'Ele. A saudade que machuca e rebela é um desrespeito para a Vontade de Deus, que sabe o que é melhor para nós, e portanto devemos aceitar e agradecer, transformando a revolta em uma ligação de amizade eterna. As almas livres da Terra podem se movimentar de acordo com sua vontade, e a saudade nunca será eterna.
      - Frei Luiz indaga sobre a propriedade privada e o ouro.
      - " O ouro não faz mal, mas também não faz bem. O ouro é morto, ele nada faz. É apenas um metal, é parte da Criação de Deus. Como tudo nessa Terra, Existe o lugar certo e o lugar errado. Os homens, para alimentar seus egos e orgulhos, elegeram o brilho do ouro como sendo uma representação física de Deus, o que sabemos ser pecado, assim como fizeram os judeus da tribo de Moisés com a ovelha de ouro. Portanto não é culpa do ouro, não devemos temê-lo e nem desprezá-lo. Devemos movimentar o ouro com sabedoria, pois ele é como um ímã de homens, e é assim que o ouro é usado nessa Terra. Ele pode atrair vastas multidões de trabalhadores, mas também pode ser igualmente usado para escravizar e multiplicar os sofrimentos.
      Devemos nos desprender do ouro e do materialismo para libertar nosso coração dessa Terra e dedicarmos nossa existência a Deus. Mas engana-se que acha que pode jogar fortuna no lixo, pois como o ouro tem poder de movimentar os homens, seria um grande desperdício de uma valiosa ferramenta Divina na prática da caridade e na construção da felicidade, como nos ensina o Evangelho. Aos ricos Deus reserva a responsabilidade de movimentar os trabalhadores, para edificar o Reino de Deus com belas obras, capazes de acomodar as suas criaturas. As pobres Deus pede que não percam a Esperança, e trabalhem para conquistar suas virtudes e sua dignidade na manutenção do Amor e da esperança. Lembremos o que o Evangelho nos ensina, que existem ricos caridosos e pobres egoístas. O egoísmo e o orgulho são manifestações do mal que devemos apagar de nossos corações, que abafam nossa consciência.
      - Frei Morico :" Pai Francisco, o que é a fé?"
     - A verdadeira fé é pensada, é o que torna a vida possível. A fé é o que nos define. Quanto mais fé temos, mais próximos de Deus ficamos. A falta de fé causa problemas de ordem espiritual, que nem uma montanha de ouro consegue resolver. A tristeza, a melancolia, a loucura, a falta de prazer, a falta de esperança são sintomas da falta de fé. A fé é uma ligação direta com o Reino dos Céus, de onde podemos extrair uma quantidade infinita de amor e distribuí-las a todos os que sofrem na Terra, principalmente os materialistas. A fé não pode ser guardada dentro de nós, ela explode e exige caridade a todos os irmãos que se aproximam de nós.
      - Frei Sabatino:" Pai Francisco, o que é Amor?"
     - Deus é amor. Nosso Mestre Jesus Cristo foi a personificação do amor. O amor liberta o homem da ignorância e conduz ao Pai. O amor deve ser cultivado com flor delicada, mas a colheita deve ser abundante como a maior das fazendas, que abastece comunidades inteiras. Se você cumprir todas as suas obrigações mas sem amor, nada terá realizado. O amor é a diferença entre o mendigo e o santo, aquele que não possui nada mas amaldiçoa a humanidade, e o outro que abençoa toda a criação do Pai distribuindo amor por todos os lugares onde passa, fazendo a obra de Deus.
       Sem amor não existe cura da doença, não existe vida, não existe felicidade, não existe manifestação do Bem. O amor é a raiz por onde nascem todos os sentimentos do Bem, por onde tem origem todos os caminhos que levam a Deus.

Fonte : Francisco de Assis por Miramez e João Nunes Maia. ed Fonte Viva.

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