sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Evangelho Espírita 13-16

CAP 13 - QUE A SUA MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O QUE FAZ A SUA MÃO DIREITA

FAZER O BEM SEM OSTENTAÇÃO

(Mateus 6:1)"Quando derem uma esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que faz a sua mão direita, a fim de que a esmola fique em segredo e Deus, que vê o que se passa em segredo, os recompensará".

(Mateus 8:1) Um leproso veio ao encontro de Jesus e respeitosamente Lhe disse:" Senhor, se quiser, poderá me curar." Jesus o tocou e disse:" Assim Eu quero, fica curado!" . Nesse instante o homem fica curado e Jesus disse:" Procura não falar desse assunto com ninguém, mas prove aos sacerdotes do templo que está curado e pode fazer sua oferenda conforme prescreveu Moisés."

Quando a Caridade é feita com grande propaganda, todos que não foram beneficiados terão seu orgulho ferido, e portanto o sentido de se fazer o bem através da caridade se reverte a fazer o mal a todas as outras pessoas. A verdadeira caridade é feita em segredo, pois que assim somente Deus saberá como melhor proceder nesta pequena semente plantada em boas intenções. Quando você estiver se sentindo caridoso, mais vale deixar algumas moedas para uma humilde mãe trabalhadora do que milhões em frente às câmeras de televisão.

Fazer a caridade com publicidade é um grande prejuízo para ambos, quem recebe e quem doa também, pois que alimentar o Ego e o orgulho de sua riqueza são sentimentos contrários às almas humildes, e sem humildade Deus não pode te recompensar pela bondade. Caridades materiais também tem menos valor de virtudes do bem, pois que assim como o sol nasce para todos, Deus fez toda a natureza para que todos nós pudéssemos viver de sua criação. Na verdade as mais lindas provas de amor na caridade são a doação de seu tempo e sua atenção, e é óbvio, doação de amor. As pessoas humildes, porém ignorantes, acham que não podem fazer doações porque são pobres de bens materiais, mas aquele que doa seu tempo porque acredita estar ajudando uma causa no bem, será o maior dos doadores de amor do Reino do Pai.

Exigir a satisfação de volta por sua caridade, ou seja, ficar esperando a palavra agradecia, ou ficar esperando ter comprado uma amizade, não é mais caridade. Nesse caso uma atitude que poderia ter sido nobre é reduzida a uma simples compra de escravos, pelo peso imposto pela gratidão, e isso se consume no pecado do orgulho e humilhação. Existem orgulhosos recebedores que recusam a esmola mas aceitam de bom grado o serviço recompensado. Nesse caso é bem diferente, pois não se trata da falsa caridade de se comprar escravos, mas neste caso existe sim a verdadeira doação de se doar um serviço com dignidade para que a própria pessoa possa lutar e conquistar seus rendimentos financeiros. O rico que doa um serviço a um pobre, mesmo esse não sendo o melhor dos empregados, é digno de grande recompensa Espiritual por sua caridade, respeito à dignidade e à criação de Deus.

Existem pessoas ricas e pobres de bens materiais, por injustiça humana e igualmente por justiça Divina, não cabendo a humanidade julgar este segundo. Às injustiças humanas da riqueza sem mérito, por orgulho e vaidade e egoísmo, cabe a Deus julgar e humilhar esta almas em próxima reencarnação como nascidos em lares necessitados, onde a sobrevivência diária é uma luta a ser conquistada e vencida. Dessa forma a caridade tem uma função Divina de perdoar as almas que foram ofensoras no passado, mostrando a elas que Deus as perdoa e as querem bem. Aos olhos de Deus, ninguém é melhor que ninguém, e Deus nunca recompensa usando de bens materiais. As propriedades da Terra são uma grande responsabilidade para quem se julga dono delas, e fracassar na missão de ajudar os irmãos através da verdadeira caridade é certeza de condenação humilhatória no julgamento do Céu.

(Marcos 12:41 - Lucas 21:1) Existia um templo e uma urna para doações de dízimo. Jesus observou durante algum tempo ricas senhoras depositando grandes bolsas de moedas, e pobres senhoras ignorando a caixa. Uma viúva que passava necessidades, veio depositar 2 moedas, em agradecimento por uma bênção de Deus, porém que as duas moedas lhe fariam falta. Ela beija as moedas e as deposita, crendo que Deus a ajudará novamente. Jesus chama seus discípulos e diz:" Em verdade Eu digo a vocês, esta viúva foi a maior caridosa entre todas as que passaram aqui hoje. Enquanto todos os outros doavam apenas o excesso que não iria lhes prejudicar, a viúva deu o que lhe faria falta, doando de seu próprio sustento."

As pessoas orgulhosas limpam suas vaidosas consciências com doações que, de outra forma, não lhes faria nenhuma utilidade, pois até quanto dinheiro pode esbanjar uma pessoa para alimentar seu Ego? As pessoas pedem grandes fortunas em orações a Deus, mas prometendo que assim poderiam ajudar os pobres. Quando Deus não cumpre a oração, se sentem esquecidas e em furiosa humilhação. Sem a sua doação amorosa, sem o seu tempo e sem compartilhar (significa partilhar para uso coletivo, inclusive o seu) não existe a verdadeira caridade, pois não respeita a pureza da intenção de ajudar. Qualquer pessoa pode ajudar a qualquer momento, desde o mendigo que senta na calçada, reclamando das chagas do corpo, até mesmo os poderosos empresários que alegam que as 24h do dia são muito poucas para se dar atenção a problemas menores dos que os seus.

Na balança de Deus, que mede as virtudes de uma alma, o ouro não tem peso algum, pois que nenhum metal e nenhuma matéria sólida criada por Deus pode ser incorporada ao Espírito. As virtudes da caridade e da humildade são pesadas como sóis de luz brilhante e quentes de amor, por todos os sacrifícios de tempo doado e trabalho realizado, e aprovado pelo sincero agradecimento dos beneficiados.

CONVIDE AO BANQUETE SOMENTE POBRES E ESTROPIADOS

(Lucas 14:12) "Quando oferecer um banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos e você será feliz, porque eles não terão como lhes recompensar. Sua recompensa será nas encarnações futuras" (ressurreição dos justos, no texto original, pois que os judeus daquela época eram materialistas e não acreditavam que iriam deixar o corpo morto na próxima vida).

Jesus falava por ilustrações, metáforas como dizemos hoje. As palavras são pobres para expressar sentimentos, lições e ilustrações. Quando você vai a um museu admirar uma pintura que lhe tocou a alma, com quantas palavras você precisa para contar a sua família tudo o que seus olhos viram? Contando essa história, Jesus queria plantar uma semente do entendimento naquelas pessoas ignorantes das Leis de Deus, e mostrar o verdadeiro significado da caridade, que é falsa quando se tem intenção de ser retribuído nesta vida, com ganhos pessoais. A verdadeira caridade que engrandece a alma é aquela em que você se torna parte integrante da criação Divina, pois que assim você conquista merecimento por suas atitudes.

TEXTO DE AUTOR DESCONHECIDO : OS INFORTÚNIOS OCULTOS
      Nas grandes calamidades a caridade se manifesta e observamos campanhas nobres e generosas para diminuir o efeito desses infortúnios. Sempre ao lado dessas tragédias coletivas, existem milhares de tragédias particulares que passam despercebidas: é o caso das pessoas que permanecem num leito de dor sem se queixar. São esses os infortúnios ocultos que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham lhe pedir assistência.
      Quem é esta mulher com ar distinto, vestida de maneira simples, embora bem cuidada, acompanhada de uma jovem que também se veste modestamente? Chega numa casa de aspecto miserável, onde sem dúvida é conhecida, porque ao entrar é cumprimentada com respeito. Para onde ela vai? Sobe até um quarto humilde, onde mora uma mãe de família cercada por criancinhas. A sua chegada é motivo de alegria para aquelas crianças emagrecidas. É porque ela vem acalmar todas as dores. Traz o necessário, pois vem acompanhada de palavras consoladoras, fazendo com que seus protegidos, que não são mendigos profissionais, aceitem o benefício sem constrangimentos. O pai está no hospital e durante este tempo a mãe não pode suprir as necessidades da família. Graças a essa senhora as crianças não sofrerão nem com o frio nem com a fome. Irão à escola bem agasalhadas e no seio da mãe não faltará leite para amamentar os pequeninos. Se alguma criança adoecer, ela não terá dúvida em tratá-la. Dali vai ao hospital levar ao pai algum consolo e tranquilizá-lo sobre a situação de sua família. Na esquina uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que doa a seus protegidos, que freqüentemente costuma visitar. Ela não lhes pergunta qual sua crença, nem qual sua opinião, pois considera todos os homens irmãos e filhos de Deus. Quando termina a visita, ela diz a si mesma: Comecei bem o meu dia. Qual é o seu nome? Onde mora? Ninguém sabe dizer. Para os infelizes, apesar de ser um nome desconhecido, é o anjo da consolação. À noite, um cântico de bênçãos se eleva por ela até o Criador. Católicos, judeus, protestantes, todos a querem bem.
      Por que ela se veste de maneira tão simples? É para não insultar a miséria com seu luxo. Por que se faz acompanhar de sua jovem filha? É para que ela aprenda como se deve praticar a caridade. Sua filha também quer fazer o bem, mas sua mãe lhe diz:" O que você pode dar minha filha, se nada tem para oferecer?", se eu lhe passar alguma coisa para dar aos outros, qual será o seu mérito? Na realidade, serei eu quem estará fazendo a caridade e você receberá o mérito, o que não é justo. Quando visitarmos os doentes, você vai me ajudar a cuidar deles, pois dispensar cuidados já é dar alguma coisa. Aprenda a costurar e poderá fazer roupas para essas crianças, assim dará algo que vem de você. Isso não lhe parece suficiente? É assim que esta mãe, verdadeiramente cristã, prepara sua filha para praticar as virtudes que o Cristo ensinou. É espírita? Sim? Não? Isso nada importa!
      Para a Sociedade é uma mulher do mundo, pois sua posição assim o exige. Mas ninguém sabe o que ela faz, pois não quer outra aprovação senão a de Deus e da sua consciência. Certo dia, um acontecimento imprevisto levou até sua casa uma de suas protegidas que andava a vender bordados. Esta, ao reconhecê-la, quis pedir sua bênção. "Silêncio!", disse ela. " Não contes nada a ninguém!". Assim também falava Jesus.

IRMÃ ROSÁLIA
      "Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem." Toda religião e toda moral se encontram contidas nesses dois ensinamentos. Se eles fossem seguidos, aqui na Terra, todos seriam felizes, pois não haveria ódios, nem conflitos, nem ressentimentos e principalmente não haveria pobreza, porque daquilo que sobra da mesa dos ricos muitos pobres se alimentariam. Assim, vocês não veriam mais, nos bairros sombrios em que vivi, durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo crianças miseráveis necessitadas de tudo.
      Ricos! Pensem um pouco em tudo isso. Ajudem os infelizes com o melhor que puderem. Deem, para que um dia Deus possa retribuir o bem que fizeram e para que possam encontrar, quando desencarnarem, um grande número de espíritos agradecidos que irão recebê-los na fronteira de um mundo mais feliz.
      Se pudessem imaginar a alegria que senti ao reencontrar no Além aqueles a quem pude ajudar em minha última encarnação terrena!
      Portanto, amem ao próximo. Amem como amariam a vocês mesmos, pois agora sabem que o infeliz que afastam, pode ter sido, outrora, um irmão, um pai, um amigo que agora rejeitam. Qual não será o desespero de vocês ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!
      Espero que tenham entendido bem o que deve ser a caridade moral, aquela que qualquer um pode fazer, porque não custa dinheiro e, ainda assim, é a mais difícil de ser praticada.
      A caridade moral consiste em se tolerarem uns aos outros, e é o que menos fazem nesse mundo inferior onde estão encarnados atualmente. Possui um grande mérito, acreditem em mim, o homem que sabe calar-se para deixar falar um outro que seja mais tolo que ele. Assim agir é uma forma de praticar a caridade. Não deem ouvidos quando uma palavra de menosprezo escapa de uma boca acostumada a zombar. Ignorem o sorriso desdenhoso com que muitos os recebem por se acreditarem superiores. Na vida espiritual, que é a única real, essas pessoas frequentemente estão muito abaixo de vocês. Proceder dessa forma não é ser humilde, mas caridoso, pois não observar o erro dos outros é uma forma de praticar a caridade moral.
      Entretanto, a caridade moral não deve impedir a caridade material. Cuidem para não desprezar o seu semelhante. Lembrem-se do que eu disse. "O pobre que hoje rejeitam pode ter sido um espírito que foi muito importante para vocês em outra vida, e que, momentaneamente, se encontra em uma posição inferior". Tive a oportunidade de reencontrar na Vida Espiritual um dos pobres a quem pude, por felicidade, ajudar algumas vezes na Terra, e a quem hoje me cabe implorar por seu auxílio.
      Lembrem-se de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensem sempre nisso antes de rejeitarem o indigente ou o mendigo. Adeus, pensem naqueles que sofrem e orem por eles!

UM ESPÍRITO PROTETOR
      Meus amigos, tenho ouvido muitos dizerem:" Como posso fazer a caridade se muitas vezes nem mesmo tenho o necessário?"
      A caridade pode ser feita de mil maneiras. Podem praticá-la por pensamento, por palavras e por ações. Como praticar a caridade por pensamento? Orando pelos pobres abandonados que morreram sem terem podido viver com dignidade. Uma prece vinda do coração os aliviará.
      Como praticar a caridade por palavras? Dirigindo aos companheiros do dia a dia conselhos benéficos. Dizendo aos homens amargurados pelo desespero, pelas privações e que por isso ofendem a Deus:" Eu era como vocês, sofria e me considerava infeliz, mas acreditei no Espiritismo e hoje sou feliz." Aos velhos que dizem: " É inútil, estou no fim da vida, vou morrer como vivi." respondam assim:" A justiça de Deus é igual para todos, lembrem-se dos trabalhadores da última hora." Digam às crianças, que já estão viciadas pelas más companhias, e que, prestes a ceder às más tentações, se perderão pelo mundo:" Deus toma conta de vocês, meus queridos pequenos", e não temam em repetir sempre para elas essas doces palavras. Elas acabarão sendo assimiladas por suas jovens inteligências, e em vez de pequenos vagabundos terão feito homens de bem. Isso também é fazer a caridade.
      Como praticar a caridade por ações? Oferecendo aos irmãos um sorriso, tendo para com eles um gesto afetuoso, dispensando-lhes singelas atenções, prestando-lhes pequenos favores, enfim, procurando tratá-los como gostariam de ser tratados.
      Muitos de vocês dizem:" Somos tantos na Terra que Deus não pode nos ver a todos." Escutem bem isso, meus amigos: quando estão no alto da montanha, não abrangem com o olhar os milhões de grãos de areia que a circundam? Pois bem! Deus observa a todos do mesmo modo. Ele deixa que usem o livre-arbítrio, assim como vocês deixam os grãos de areia se moverem aos sabor do vento que os dispersa. A diferença é que Deus, em Sua misericórdia infinita, colocou no fundo do coração de vocês uma sentinela vigilante que se chama consciência. Escutem-na porque ela somente dará bons conselhos. às vezes conseguem entorpecê-la, deixando que o espírito do mal se manifeste, então ela se cala. Mas fiquem certos de que ela se fará ouvir novamente, tão logo perceba em vocês o primeiro sinal de arrependimento. Escutem e questionem sua consciência, pois ela sempre terá bons conselhos para confortá-los.
       Meus amigos, a cada novo regimento o general confia uma bandeira. Eu trago a minha através desse ensinamento do Cristo:" Amem-se uns aos outros". Pratiquem e reúnam-se em torno desse ensinamento e receberão como retorno a felicidade e a consolação.

ADOLPHO BISPO DE ALGER
     página 165 segunda edição editora Besouro Box

SÃO VICENTE DE PAULO
      página 166 da mesma obra

CÁRITAS - MARTIRIZADA EM ROMA
      Meu nome é Caridade, eu sou o caminho principal que conduz a Deus. Sigam-me, pois sou o objetivo a que todos podem e devem visar.
      Fiz esta manhã minha caminhada habitual, e digo-lhes com o coração aflito: Meus amigos, quanta miséria, quantas lágrimas e quanto trabalho a realizar para secá-las! Procurei em vão consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Existem corações bondosos a protegê-las, não ficarão abandonadas. Paciência! Deus está aqui, e vocês são suas amadas eleitas. Elas pareciam me ouvir e voltavam para mim seus olhos arregalados e distantes. Eu via em suas expressões que o corpo estava com fome, e se minhas palavras tranquilizavam um pouco seus corações, elas não lhes saciavam o estômago.
      Então eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, bem jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a em seus braços e estendeu-a no espaço vazio, como a me pedir para que protegesse aquele pequeno ser, que encontrava alimento insuficiente, num sei quase sem leite.
      Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho, e também sem abrigo, atormentados pela necessidade e envergonhados de sua miséria. Não tinham sequer coragem para pedir esmola aos que passavam, pois nunca mendigaram.
      Eu, que nada tenho, com o coração tomado de compaixão, me fiz mendiga para eles e vou por toda parte estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e sensíveis. Por isso, venho até aqui dizer: existem por aí infelizes em cujos casebres não tem pão para comer, não tem fogo no fogão e não tem cobertor em sua cama. Não digo o que é preciso fazer. Deixo que seus bons corações tomem a iniciativa. Se dissesse como devem proceder, suas boas ações não teriam mérito. Eu apenas digo: Sou a Caridade e estendo as mãos pelos irmãos sofredores.
      Mas se peço, também dou e dou muito. Eu convido a todos para um grande banquete e forneço a árvore onde irão se saciar! Vejam como é bela, como está carregada de flores e frutos! Venham, peguem todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. No lugar dos ramos que arrancarem, colocarei todas as boas ações que fizeram e levarei até Deus, para que Ele a carregue de novo, pois a beneficência é inesgotável. Sigam-me meus amigos, a fim de que eu possa colocá-los entre aqueles que seguem a minha bandeira. Não tenham medo, eu vou conduzí-los pelo caminho da salvação, pois sou a Caridade.

UM ESPÍRITO PROTETOR

      Meus caros amigos, a cada dia ouço quando dizem:" Sou pobre, não posso fazer a caridade", e todos os dias vejo muitos não perdoarem seus semelhantes. Além de não perdoarem nada, ainda se colocam como juízes severos. Certamente não gostariam de ser tratados da mesma maneira. o perdão também não é caridade? Aqueles que puderem fazer somente a caridade através do perdão, façam pelo menos essa, mas façam em grande quantidade. Em relação à caridade material, vou lhes contar uma história do outro mundo.
       Dois homens acabam de morrer e Deus havia dito:" Enquanto esses dois homens viverem, suas boas ações serão colocadas em sacos separados, para que sejam pesados após a sua morte". Quando ambos chegaram aos últimos momentos de suas vidas, Deus mandou trazer os dois sacos. Um estava pesado, grande, bem cheio, e nele ressoava o metal que o enchia. O outro, era tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha. Cada um dos homens reconheceu seu saco:" Eis o meu, disse o primeiro, posso reconhecê-lo, fui rico e dei muito." "Eis o meu, disse o outro, sempre fui pobre e não tinha quase nada para repartir." Mas que surpresa! Quando os dois sacos foram colocados na balança, o maior tornou-se leve e o menor ficou pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança. Então Deus disse ao rico:" Você deu muito, é verdade, mas deu por ostentação e para ver seu nome figurar em todos os templos do orgulho. Além disso, ao dar você não se privou de nada. Vai para esquerda e fica satisfeito pelo fato de suas esmolas ainda lhe servirem para alguma coisa". Depois disse ao pobre:" Você deu pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas que estão na balança lhe representou uma privação. Se não deu esmola, fez a caridade, e o que é melhor, fez naturalmente, sem pensar que a levariam em conta. Foi tolerante e não julgou seu semelhante, pelo contrário, encontrou desculpa para cada uma das más ações que eles cometeram. Passa à direita e vai receber sua recompensa."

A PIEDADE POR MICHEL
       página 170

CAP14 HONRAR PAI E MÃE

O mandamento é uma consequência da Lei da Caridade e do Amor, porque dependendo do caso tem algumas implicações em seu caráter e na sua alma. Os laços familiares podem ser muito antigos, formando um grupo de almas que se conhecem desde a criação. Em alguns casos, por terem mais afinidade, as almas então nascem em situação de pais e filhos para tirar proveito da Hierarquia do lar, fazendo que as almas "teimosas" sejam obrigadas a ouvir a voz que tem mais razão. Em outros casos, a diferença de evolução é tanta que até parece que o filho é professor do pai, porém nunca se deve abandonar a posição da Hierarquia do lar, nem mesmo após adulto, como bom exemplo temos os filhos que sempre pedem "bênção" ao pai toda vez que o encontra. O pai não deve exigir prestar contas dos filhos por todas as graças que Deus lhe concedeu para criar os filhos, pois isso seria uma ingratidão para com Deus. Os filhos nunca devem virar suas costas e abandonar os pais, ou ainda ignorarem sua existência fazendo apenas pequena caridade para mantê-los vivos como se fossem estranhos mendigos. A relação entre pai e filho pode sofrer atritos e discussões iradas, mas isso é apenas o processo de se mostrar humildade para as almas orgulhosas, que se rebelam ao ataque.

O mandamento se estende a relacionamentos não biológicos, como a adoção dos filhos, mestre e aluno, todos que se doam para a causa da educação e proteção daqueles que não podem se manter saudáveis por conta própria. Da mesma forma como Jesus nos ensina o perdão aos inimigos, mais fácil será então perdoar os amigos, as pessoas que assumem a responsabilidade de nos criar devem ser perdoadas de seus erros pois que nenhuma guerra é eterna, nenhum pecado é maior que a virtude e nenhuma falta ficará impune por Deus. Os erros cometidos pelos pais podem magoar as inocentes almas infantis, mas o adulto tem condições de transformar esses maus exemplos em bons exemplos, construindo melhor seu caráter e evitando de cometer a falta ele mesmo.

Todos nós Cristãos, seja espírita ou não, temos a prova de que o Reino de Deus não é deste mundo material, como Jesus ensinou. Portanto seria muito irracional pensar que os defeitos de seus pais sejam punição de Deus, pois que todos nós somos imperfeitos e estamos aqui na Terra exatamente para viver essas imperfeições e unirmos forças para não mais continuar o erro. Como nós espíritas sabemos, em próximas vidas nossos papéis se inverterão, e para o futuro devemos apenas levar bons exemplos e carinhosas memórias, que serão as sementes das famílias no futuro melhor.

SANTO AGOSTINHO
      A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo e revolta sempre os corações honestos. Entretanto, a ingratidão dos filhos em relação aos pais tem um caráter ainda mais odioso. É particularmente sob o ponto de vista da ingratidão dos filhos para com seus pais, que faremos a análise de suas causas e de seus efeitos. Também nessa questão, como em tantas outras,  o Espiritismo vem esclarecer um dos grandes problemas do coração humano.
      Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões e as virtudes próprias de sua natureza. Retorna ao Plano Espiritual para se aperfeiçoar ou permanecer estacionário até que deseje se esclarecer. Muitos desencarnam levando consigo grandes ódios e desejos de vinganças que não puderam executar. Os que estão mais evoluídos conseguem perceber uma parte da verdade. Compreendem então os efeitos danosos de suas paixões e procuram se melhorar, reconhecendo que para chegar até Deus só existe um caminho: a caridade. Porém, não existe caridade sem o esquecimento das ofensas e das injúrias, não existe caridade com ódio no coração, e não existe caridade sem perdão.
      Então, com um esforço muito grande, eles olham aqueles a quem odiaram na Terra, e essa visão desperta seu rancor. A idéia de perdoar e amar aqueles que destruíram talvez sua fortuna, sua honra, sua família, lhes revolta. Assim, o coração desses infelizes está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Uma vez que o Espírito toma a decisão de encarnar entre inimigos de vidas passadas, ele roga a Deus e aos bons espíritos auxílio para enfrentar e vencer a prova.
      Após anos de meditação e prece, o Espírito aproveita-se de um corpo que está em preparo e pede aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens superiores permissão para reencarnar na família daquele a quem detestou. Realizará na Terra o destino daquele corpo que acaba de se formar. Qual será então sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência em cumprir as resoluções tomadas antes de reencarnar. O contato incessante com aqueles a quem odiou é uma prova terrível, e muitas vezes o Espírito fracassa se não tiver uma vontade bastante forte. Assim, conforme prevaleçam ou não as boas decisões que tomou, ele será amigo ou permanecerá inimigo daqueles em cujo meio veio viver. É desse modo que se explicam os ódios, as repulsas instintivas que se notam em certas crianças e que nenhum ato anterior consegue justificar. Para compreender essa antipatia é necessário voltar os olhos ao passado, pois não existe nenhum fato, nessa nova existência, que possa explicá-la.
      Espíritas! Compreendam o grande papel da Humanidade, compreendam que quando se gera um corpo a alma que nele reencarna vem do Plano Espiritual para progredir. Cumpram com seus deveres, e façam o que for possível para aproximar essa alma de Deus, mas façam com muito amor. Esta é a missão que foi confiada a vocês, e serão recompensados se a cumprirem fielmente. Os cuidados, a educação que vão lhe dispensar, ajudarão no seu aperfeiçoamento e no seu bem-estar futuro. A cada pai e cada mãe, Deus perguntará:" O que fizeram do filho que lhes foi confiado?". Se permaneceu atrasado por culpa de vocês, seu castigo será vê-lo entre os espíritos sofredores, pois sua felicidade dependia da dedicação que dispensariam a ele. Então, atormentados pelo remorso, pedirão uma oportunidade para repararem a falta. Solicitarão uma nova encarnação para ambos, na qual irão criá-lo com maior cuidado, e ele, cheio de reconhecimento, irá retribuí-los com seu amor.
      Não rejeitem, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que só sabe pagar com a ingratidão o que recebe. Não foi o acaso que o fez assim, como também não foi o acaso que o enviou para que dele cuidassem. É o passado que está se revelando e através dele podem deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido. Que um ou outro veio para perdoar, ou para expiar as desavenças de vidas anteriores. Mães! Abracem o filho que lhes causa desgosto e digam para vocês mesmas:" Um de nós é culpado". Façam por merecer os prazeres da maternidade, ensinando a seus filhos que eles estão na Terra para se aperfeiçoar e para aprender a amar. Muitas mães, em vez de combaterem pela educação, os maus princípios de nascença provenientes de existências anteriores, mantêm e desenvolvem esses mesmos princípios por serem fracas no agir ou por serem negligentes. Mais tarde, com o coração amargurado pela ingratidão dos filhos, sofrerão, já nesta vida, o começo de suas expiações.
       A tarefa não é tão difícil quanto podem pensar, pois ela não exige cultura. Tanto o ignorante quanto o sábio podem cumpri-la. O Espiritismo vem facilitá-la, ensinando-nos a causa das imperfeições humanas.
      Desde o nascimento, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de suas existências anteriores. É preciso aplicar-se em estudá-los. Todos os males tem origem no egoísmo e no orgulho. Cabe aos pais observar e combater os menores sinais de manifestação desses vícios, sem esperar que criem raízes profundas. Façam como o bom jardineiro que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixarem que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não se espantem, mais tarde, se forem pagos com a ingratidão.
       Quando os pais fazem tudo o que podem para o adiantamento moral dos filhos, e ainda assim não alcançam êxito, suas consciências devem ficar tranquilas e o desgosto que sentem por verem todos os seus esforços fracassados é natural. Deus lhes reserva uma imensa consolação, na certeza de que isso é apenas um atraso momentâneo desse Espírito. Será permitido aos pais terminarem, em uma outra existência, a obra começada nessa, e um dia o filho ingrato os recompensará com seu amor.
        Deus não dá a prova acima das forças daquele que a pede. Ele apenas permite aquelas que podem ser cumpridas. Se fracassarmos, não é por falta de condições, mas por falta de vontade. Existem muitos que em vez de resistirem aos maus pensamentos, neles de comprazem. É para esses que estão reservados o choro e os sofrimentos em existências posteriores. Admirem, portanto, a bondade de Deus, que nunca fecha as portas ao arrependimento.
       Chegará o dia em que o culpado, cansado de sofrer, com seu orgulho dominado, pedirá ajuda. Só então Deus abrirá Seus braços paternais para o filho pródigo que se lançará a Seus pés. As grandes provações, quando aceitas com o pensamento em Deus, quase sempre indicam o fim de um sofrimento e, por consequência, um aperfeiçoamento para o Espírito. É um momento supremo, e o Espírito não deve se lamentar se não quiser perder o fruto da prova e ter que recomeçá-la. Em vez de reclamarem, agradeçam a Deus pela oportunidade de poderem vencer e receberem o prêmio pela vitória. Quando saírem da vida terrena e entrarem no Mundo dos Espíritos, serão aclamados como o soldado que sai vitorioso da batalha.
      As provas mais difíceis são aquelas que afetam o coração. Existem aqueles que suportam com coragem a miséria e as privações materiais, mas abatem-se ao peso das amarguras domésticas, atormentados pela ingratidão dos seus. Que angústia terrível! Nesses casos, mais que o conhecimento das causas do mal, a certeza de que não existem sofrimentos eternos é que ajuda a reerguer a coragem moral, porque Deus não quer que Sua criatura sofra para sempre. O que pode existir de mais consolador e encorajador do que saberem que depende apenas de seus próprios esforços abreviarem o sofrimento, destruindo em vocês mesmos as causas do mal? Para isso, não poderão observar apenas uma existência terrena; será necessário elevarem-se a ponto de abrangerem a percepção do passado e do futuro. Então a Justiça infinita de Deus se revelará aos seus olhos e passarão a encarar a vida com paciência, pois terão a explicação do que parecia uma monstruosidade na Terra; as feridas que suportaram parecerão arranhões. Olhando para o conjunto das várias existências, os laços de família aparecem como realmente são. Já não são mais os laços frágeis da matéria que reúnem os seus membros, mas sim, os laços duráveis do Espírito que se perpetuam, se consolidam e se purificam, em vez de se romperem pelo efeito da encarnação.
      Os Espíritos que buscam o progresso moral e possuem semelhanças de gostos e afeições, reúnem-se formando famílias. Esses Espíritos, quando retornam à Terra, procuram se agrupar como faziam no Mundo Espiritual, dando origem a famílias unidas e homogêneas. Se nas suas idas e vindas ficarem temporariamente separados, mais tarde eles se reencontram e ficam felizes pelos novos progressos realizados. Entretanto, como não devem trabalhar apenas para si mesmos, Deus permite que Espíritos mais atrasados venham encarnar-se entre eles, a fim de receberem conselhos e bons exemplos para progredirem. Esses Espíritos atrasados geralmente causam perturbações no ambiente dos Espíritos mais evoluídos, o que constitui para eles uma prova a ser suportada. Portanto, acolham e os ajudem como irmãos, e mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se alegrará por ter salvo alguns náufragos, que por sua vez poderão salvar outros.

CAP 15 FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

(Lucas 10:25) "Um homem que descia de Jerusalém a Jericó foi assaltado por ladrões que o despojaram de tudo e ainda cobriram-no de feridas, deixando-o quase morto. Um sacerdote, que descia pelo mesmo caminho, quando viu o homem, tratou de passar bem longe. Um Levita, que vinha mais atrás, ao ver o homem caído, também passou longe. Mas um Samaritano, ao passar por onde o homem estava caído, foi tomado de compaixão. Aproximou-se dele, passou azeite e vinho em suas feridas, e depois as enfaixou. Colocou o homem sobre seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas de prata e deu ao hospedeiro dizendo:" Cuide bem desse homem, e tudo o que você gastar a mais, eu lhe pagarei quando retornar". Qual dos três, a seu ver, parece ter sido o próximo daquele que foi assaltado?" E o doutor da lei respondeu:" Aquele que teve misericórdia para com ele." disse Jesus:" Vá e faça o mesmo". Observação: Não significa que Jesus preferia os Samaritanos, isso é apenas um exemplo hipotético, Jesus poderia ter dito Zé Mané, ou Palmeirense, ou qualquer grupo. Não significa que esses grupos tem mais razão que os outros.

"Bem aventurados os humildes, porque é deles o Reino dos Céus, bem aventurados os que tem puro o coração, bem aventurados os que são mansos e pacíficos, bem aventurados os que são misericordiosos. Amem o próximo como a vocês mesmos, façam aos outros o que gostariam que os outros fizessem por vocês, respeitem os inimigos, perdoem as ofensas se quiserem ser perdoados, façam o bem sem ostentação, julguem-se a si mesmos antes de julgarem os outros".

Voltamos a repetir sempre, por todo o texto do Evangelho Espírita, que as ilustrações que Jesus usava para ensinar não devem nunca ser tomadas por verdade sem interpretação, ou seja, é linguagem figurada. Em uma metáfora dizemos :" A chuva estava tão gelada que corri como um raio para chegar até aqui." Eu não me tornei um raio de verdade, que é uma descarga de elétrons que ocorre entre a nuvem e o chão. Eu não atingi a velocidade do raio, pois o mais rápido ser humano da atualidade atinge 45km/hora e os elétrons do raio atingem 300km/segundo. Eu não emiti um clarão de luz e não fiz o barulho do trovão. Então de que se trata a metáfora? A intenção do texto foi de exemplificar o SENTIMENTO do meu esforço em correr ao máximo que meu corpo me permite para vencer o obstáculo da baixa temperatura da água. "Estou com uma fome de leão", "poderia comer um cavalo", "Matei aula hoje", são metáforas hipérboles, que exageram o tamanho físico da ilustração com a intenção de demonstrar a forte intensidade do sentimento da pessoa. Dessa forma, Jesus habilidosamente desenhava figuras mentais nos alunos usando de poucas palavras, e respeitando a capacidade de raciocínio da pessoa.

Uma dessas metáforas que Jesus nos ensina é a do pastor e das ovelhas. Essa metáfora foi levada ao pé da letra, de forma que deu surgimento aos cultos pastorais evangélicos, que tem como uma de suas condutas a leitura literal da bíblia, tanto em velho como em novo testamento. Essa prática leva a raciocínios impossíveis, desrespeitando a ciência e a lógica da Natureza. Mais ainda, tomando por verdadeiras as metáforas da bíblia, a pessoa acaba aceitando o fato sem raciocínio, pois este está confuso em conflito com a Lei Natural. Esses desentendimentos geram fraquezas e pecados, como a vaidade de se considerar mais puro do que aquele que não participa do culto, ou rebaixando a Deus a um mero santo que luta com Satã, em uma eterna luta sem vitórias. Jesus Disse, sem metáforas e sem duplo-sentidos e sem sentidos ocultos e sem necessidade de raciocinar, que Jesus DETERMINA:" Amai(respeite e acredite) a Deus ACIMA de todas as coisas (inclusive do Diabo que não tem poder divino), Amai ao próximo(os não crentes) como a si mesmos(em nível de igualdade)". ESSA É A LEI. (Mateus 22:34)

Se Jesus coloca a caridade como a primeira das virtudes, é porque ela contém, implicitamente, todas as outras: a humildade, a mansidão, a bondade, a indulgência, a justiça, etc. e também porque a caridade é totalmente oposta ao orgulho, ao egoísmo e a vaidade.

APÓSTOLO PAULO - CARTA AOS CORÍNTIOS 13:1
      Ainda que eu falasse todas as línguas dos homens e até mesmo à língua dos anjos, se não tiver caridade, sou apenas um metal que produz um som e um sino que toca. Ainda que eu tivesse o dom de profetizar e conhecer todos os mistérios, e tivesse um perfeito conhecimento de todas as coisas, e ainda que tivesse toda a fé possível, capaz de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada serei. E se tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada me serviria.
      A caridade é paciente, é doce e benigna, não é invejosa, não é afoita e nem precipitada. Não se enche de orgulho, não despreza ninguém, não procura seus próprios interesses, não se vangloria nem se irrita com nada. A caridade também não faz julgamentos precipitados, não se alegra com a injustiça e sim com a verdade. Ela a tudo suporta, tudo crê, tudo espera e tudo sofre.
      Entre essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a maior delas é a caridade.

Com o perdão da palavra, seria falta de caridade minha deixar de comentar o dogma que as igrejas construiram para seu proveito próprio:" Fora da Igreja não há salvação". Esse dogma separa e desune os irmãos, provocando rixas, discussões e até a guerra das Cruzadas. A Verdade que vem de Deus é a seguinte:" FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO". Então porque Deus permite a deturpação da palavra pelas igrejas? Porque é a necessidade dos humanos em se unir a um grupo, assim como ovelhas se unem a rebanhos para se protegerem contra os lobos.

CAP16 NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON(dinheiro)

(Lucas - 12:13 - 16:13 - 16:19 - 18:18 - 19:1)(Mateus 19:16 - 25:14)(Marcos 10:17)

A bíblia está repleta de exemplos de como os ricos egoístas e avarentos nunca entrarão no Reino dos Céus, mas com a permissão Divina eu estarei acrescentando uma história verídica, sem metáforas, da infância de São Francisco de Assis, que foi a Reencarnação de João Evangelista, o último apóstolo de Jesus a desencarnar da Terra. São Francisco era filho de Pedro Bernardone(o mais rico comerciante e dono de escravos de Assis) e Maria Picallini Bernardone, criado também por Jarla, escrava grega. Livro "Francisco de Assis" por João Nunes Maia e Miramez 26ª edição editora Fonte Viva pág. 181

      "Pedro Bernardone estava desesperado com a mudança de Francisco, filho que ele esperava ser seu substituto no grande comércio... O rapaz surgiu diante do pai, cumprimentando-o amavelmente, e logo foi conversar com alguns trabalhadores... Pedro, interessado, procurou sorrateiramente, escutar a conversa, para tirar conclusões sobre as idéias do seu filho. E ouviu o diálogo travado com um dos feitores:
- Olá Gustavo!
- Senhor Francisco, como vai? O senhor deve estar bem; jovem, rico, sendo cortejado por lindas mulheres... O senhor é feliz. Quem dera fosse eu!... - suspirou o rude servidor.
      Francisco, de olhos fixos nos olhos do feitor, dominando-o, sentiu de pronto sua natureza inferior; todavia, isso não importava. Queria experiências, suspender o nível de compreensão daquele ser humano, mostrando a ele que a verdadeira vida estava noutra frequência. Mesmo que ele não entendesse naquela hora, ficaria com a consciência tranquila do dever cumprido...
      A ciência do ambiente, desprendida pelo coração de Francisco, transformara um pouco o capataz, colocando-o à vontade, e este imediatamente, entregou-se ao rapaz com toda a confiança. Pensava o senador: "Ninguém nunca me falou com tanta segurança, jamais recebi tanta atenção, como a que o jovem senhor está me dando hoje, e deve ser por isso que o patrão o está achando estranho..." e balbuciou baixinho:" Se todo mundo fosse assim, que beleza! A gente até esqueceria os sofrimentos da Terra". E tomou coragem para falar ao filho de Bernardone:
- Olha, senhor Francisco!... apontou o dedo para a grande cabaça. O senhor sabe o que tem ali dentro?
- Certamente que é água, Gustavo. A natureza é tão sábia, que além de nos doar água pura para nos sustentar a vida do corpo, ainda faz a vasilha com as condições exigidas, no sentido de manter essa mesma água, fresquinha e saudável. É nestas pequenas coisas, meu amigo, que encontramos Deus.
- Será que tem alguém nos ouvindo?
- Tem Gustavo!
- É o Senhor, não?
- É o Senhor , sim! O Senhor do Céu, Gustavo, Deus, que tudo vê e tudo escuta, mas a ninguém castiga e ama a todos com o mesmo ardor.
- Então vou contar ao senhor, um caso... - aponta o dedo para a cabaça - Olha, patrãozinho!... aquela cabaça, antes era para água, mas o seu destino mudou; hoje está cheia de óleo de pedra, que deverei derramar na minha saída, em todos os fardos de palha do celeiro. Tarde da noite atearei fogo, porque não aguento mais o seu pai. Já pela terceira vez ele cospe na minha cara, na vista dos servos. Ele exige respeito, no entanto, a ninguém respeita. O que posso fazer é bater nos escravos, o que eu faço com todo o meu ódio. Mas tudo tem limite e agora eu quero vingança. Não sei porque estou contando ao senhor, pois essa casa lhe pertence também; porém vejo em ti um homem diferente daquela fera. Desculpe-me, mas seu pai é um animal...
      Pedro Bernardone que escutava escondido, mordia os lábios de raiva e a pressão subia. Teve um ímpeto de estrangular o traidor. Mas a curiosidade de saber da resposta do filho era maior, e manteve o silêncio. Francisco falou com autoridade:
- Gustavo, não deves prejudicar o teu senhor, do modo que pretendes. É certo que estás sendo lesado nos valores que a vida te confiou, sem que a oportunidade possa bater em tua porta de imediato, convidando-te para melhores dias; não obstante, a própria vida demora, mas nunca se esquece dos filhos de Deus e tu fazes parte do Grande Rebanho. Se já chegaste até aqui com esse fardo pesado, caminha mais um pouco, porque na verdade a tolerância que porventura exercitas agora, adiante te abrirá muitas portas, por onde poderás passar com mais facilidade, sentindo a vida e vivendo em Deus. O ódio que parece querer pousar no seu coração escurecerá os teus dias, dificultando assim que encontres os caminhos da luz. Faze com que a tua cabaça volte ao seu trabalho de servir de instrumento de matar a sede, e nunca mais enlameie essa vasilha de intenções iníquas. Nunca queiras, Gustavo, perverter as coisas, somente porque os teus dias estão longos e negros.
- Gustavo, eu sou filho de Pedro Bernardone, bem sabes, não porque mereço esse conforto, não porque mereço essa posição social que ora desfruto; é por misericórdia de Deus, meu e teu Pai igualmente. De uma hora para outra poderemos trocar de posição na vida, e quem sabe, não irei precisar de ti nas maiores dores, nas cruciantes provações? Os bens materiais, Gustavo, são transitórios, não tem parada certa; quando sua estadia começa a fazer mal ao zelador, são retirados por forças invisíveis e colocados em outras mãos, com outro destino. O nosso empenho verdadeiro deve ser o da conquista dos tesouros eternos, que andam conosco onde estivermos.
      O capataz nunca tinha ouvido um falar tão bonito como aquele, Estava admirado! Onde ele aprendera coisas como aquelas? Francisco, além das palavras, envolvera Gustavo em um magnetismo de amor, de interesse, de bondade, e o servidor não suportara o ambiente de que nunca fora alvo e seus olhos estavam marejados de lágrimas... Francisco também emocionado prosseguia:
- Vê como a maldade não reside em teu coração. Estás querendo é defender-te dos ataques do teu senhor, e querendo dias melhores; no entanto, não sabes por onde começar e, nessa perturbação, vicejam meios errados. Se começares revidando os acicates da prepotência, perderás, porque o ódio gera ódio, rebenta-se na maior inimizade, e quando os transformamos em amor, Deus nos premia com a Paz. Não deve importar a ti como o senhor Bernardone adquiriu tudo o que aqui se encontra. O que deve te importar, sim, é cumprir o teu dever, onde o céu te chama. Destruir não deve ser a atitude de homens de senso iluminado pela fé. Ninguém sofre eternamente; as sombras continuarão, enquanto não aparecer o Sol da compreensão. Se por acaso persistires na maldade, demorará amarrado nas vigas da cegueira, e somente enxergarás a ti mesmo, esquecendo-te dos outros. O egoísmo te prende de mãos dadas às irreverências.
      Pedro Bernardone ainda escondido estava abatido. Apesar da defesa do filho, a educação e ternura com os servos era para ele uma falta gravíssima. Pensou "Depois acerto as contas com esse cão!" e voltou para seus aposentos. Gustavo ordenou os pensamentos e respondeu:
- Nunca pensei que na família do carrasco pudesse nascer alma tão pura como o senhor. Sinto que deve estar sofrendo com esse modo de viver. Preciso de quem me ajude, não sei mais o que pensar sobre mim. Estou humilhado, doente e maltratado como um animal. Quero encontrar no senhor um arrimo, quero ter fé em alguma coisa, quero ter esperança, menino Francisco!... As lágrimas explodiram.
     Francisco esperou que as emoções se acalmassem, e percebendo que o capataz arrependido iria quebrar a cabaça, interveio com ternura:
- Não faças isso, Gustavo. Queres mostrar o teu arrependimento, destruindo? Quebrar essa cabaça é mostrar que a vingança ainda ronda o teu coração. Porque quebrá-la? Ela que somente te serviu, resguardando a água das impurezas para te saciar a sede, e sempre foi amiga fiel! Mesmo o óleo que nela se encontra, poderá ser útil em alguma lamparina, e como perdeu o ambiente para guardar a pureza da água, servirá agora para resguardar a utilidade do óleo de pedra.
- Gustavo, o ódio e a vingança, na vasilha do coração no seu peito, é como essa cabaça que era para a água e levou óleo. Após muito tempo é que poderá voltar a conduzir a água sem contaminá-la, pois o óleo se esconde nas fibras do ser que o toca. No entanto, se persistirmos no bem, tudo alcançaremos na paz de Deus e do Cristo. Seja corajoso, no tocante ao bem que podes fazer. Queira ser homem não apenas por masculinidade, mas para converter a tristeza em alegria, a guerra em paz e o ódio em amor. Procura mostrar a tua força por todos os meios, no entanto, nunca te esqueças de dominar os teus próprios impulsos de vingança, inveja e descrença.
     (...)
      Francisco foi entrando na mansão, disfarçando a tristeza:
- Boa tarde papai; como vai o senhor?
- Vou bem, filho... Quero muito falar-te. Estou aqui há horas, à tua espera (mentira).
- Desculpa-me papai, não sabia...
- Olha Francisco, não estou compreendendo o modo pelo qual estás te comportando, a tua mudança me estranha. Parece que não te interessa mais o comércio? Viaja por muitos lugares sem que eu saiba o que estás fazendo. Isso me preocupa. Conversas alegremente com os servos, dando bondade e sem cobrar a sua nobreza. Eu tenho grande esperança no teu futuro, e dele não posso descuidar, para que a tua mente não seja deturpada com uma falsa visão da realidade. Cismo com tua frequência junto a servos e filósofos, que amam mais a preguiça do que o trabalho. Como teu pai, ordeno que afaste-se desses imundos. Eles vieram ao mundo para nos servir, meu filho, assim como bois e cavalos. Se te compadeces exageradamente, acabará sendo um deles.
- Francisco, quero também que saibas de uma coisa: não pode doar nada meu sem me consultar antes. Ainda estou vivo, e nesta conduta é bom que lhe aplique também a seus filhos. Herança tamanha como esta é digna de ser guardada. Nós somos donos deste império porque sou vigilante, sei administrar, sei conduzir, e não meço sacrifício para ajuntar. Se um comerciante tiver piedade, e amolecer o coração, o que ele tem desaparece no dia seguinte. A piedade, a caridade, o amor, a paciência, a tolerância e a fraternidade são contrárias as barganhas das coisas. A nossa cartilha de comerciante deve ser outra. Veja que o Cristo não vendeu nem comprou, porque ensinava contrário, e você não vai querer ser um Cristo, vai?
- Eu te dei a melhor das educações, mas não para desperdiçar com Jarla, como se fosse pessoa de sua intimidade. E por cima de tudo ainda trouxe uma serva das terras de Apolo (negra), juntando à nossa família. São estas arestas que precisa aparar na sua conduta. Quero fazer de ti um nobre, e para isso precisa de qualidades!
- Saiba que eu ouvi a sua conversa com aquele miserável capataz. Gustavo vai pagar pela ousadia de desmoralizar-me diante de meu filho, por querer atear fogo em meus bens. Já dei ordens para sumirem com aquele cão, que servirá de exemplo a todos respeitarem minha propriedade!
      Pedro foi se exaltando cada vez mais, pressão subindo, dedo apontando ao nariz de Francisco:
- Meu filho! É bom que aprendas a obediência, sem que eu use de violência; que aprendas o trabalho, do modo que requerem a nobreza, sem que eu te imponha o dever. Que mudes a sua conduta aos servos antes que eu te ensine pela força! ...
      Finalmente Francisco percebeu a oportunidade de falar, e usou de toda a sua poderosa alma evoluída no amor para manter a figura do pai atenta e paralisada no reclinador, sem interrupções:
- Papai, estou encontrando dificuldades para começar a responder-te; não obstante, confio na Providência Divina. Deves saber que não sou mais criança. Sinto a liberdade gritar dentro de mim, impondo-me condições absolutamente certas. Há coisas que ainda não compreendo, porém, o prazer que me assoma valoriza as atitudes que deverei tomar. cada ser humano, tu bem sabes, é um mundo à parte, regido por leis diferentes umas das outras, enraizadas na grande lei de Deus, que é o amor. Estou começando cedo, talvez porque assim queira Deus e por ser o fim da madrugada que anuncia o dia. Sei que vou encontrar dificuldades sem conta, sei que arranjarei muitos inimigos gratuitamente e serei desprezado pela família. Todavia, de uma coisa sei mais que tudo: estarei cumprindo meu dever de consciência e que estou sendo eu mesmo na jornada infinita da criação. Se for preciso dizer-te adeus para cumprir meu dever, eu o farei! Não porque eu queira esquecer-te, mas para cumprir o destino traçado pela Divindade! Para mim são sagrados os laços de família, entretanto, os laços com a Verdade o são muito mais. Acho que o homem nobre, conforme você entende, nem sempre faz o que quer, mas sim a vontade d'Aquele que estás no céu. Neste momento, há de desaparecer pai e filho, para sermos homens.
- Papai, não quero impor-te condições de vida, nem dar-te conselhos acerca da tua conduta, mas não posso aceitar também a tua interferência no modo pelo qual quero viver e me portar. De agora em diante sou Livre! Se queres continuar seu comércio, do modo como a razão te estimula, faze-o. Se não queres ouvir a voz dos sentimentos virtuosos, faze-o. Se queres viver  na opulência, enquanto os teus empregados e servos agonizam, não vou me opor a sua vaidade. Perdoa-me mas não posso calar!. Digo isso para esclarecer-te sobre as leis de Deus; os teus ouvidos estão surdos e teus olhos vendados, escravo de tuas necessidades. Deus é pai de todos, e assim como tu és filho d'Ele, os outros também o são. Não duvido que os servos tenham vindo ao mundo com o compromisso de servir aos senhores, de comerem o pão com o suor do rosto. Contudo os seus donos podem ter um pouco de humanidade com eles, dando-lhes esperanças, algumas folgas para descanso, melhorando o tratamento. Coloquemo-nos em seus lugares e veremos como a atenção e a esperança fazem falta. Neste momento estás tendo a prova. Pressinto que pelo seu querer avançarias contra mim, surrando-me sem piedade. No teu entender sou filho ingrato, que desrespeita o pai, pois tem me amontoado de bens sem fim, e pretende me fazer nobre, mais um na burguesia. Antes de mais nada deve se colocar no lugar de Gustavo, a quem mandou matar sem pensar nas consequências, porque ele não suporta mais as suas maldades. Pretendes com isso tirar o pai de uma família, porque você não tem sentimentos. Os meninos passarão fome, a esposa desorientada talvez enlouqueça e abandone os filhos. Porque? Pela tua prepotência, o teu orgulho ferido e tua vingança!
- Se continuares assim talvez eu não queira mais ser seu filho, porque essa é uma vergonha que quero esquecer. Sou sim, filho de Deus, e quero herdar, mas de Jesus Cristo. Fui à terra de Apolo (Turquia?) para ver com outros olhos. Senti o que aquele povo sente na própria carne. Não pretendo tirar a cruz das costas de ninguém meu pai, mas ajudá-los a carregar. E com muito prazer, isso eu farei em nome de Deus! (...) Queira Deus que estas minhas palavras despertem em seu coração alguma coisa de útil. Não quero que liberte os escravos, ainda, mas os trate com mais humanidade. Minha mãe e Jarla são exemplos de virtudes, porque não lhes dá ouvidos? Seria a luz que espalharia as trevas da ganância que te envolve.
        Pedro Bernardone saindo da paz imposta por Francisco, balançou a cabeça para se livrar da pérola que lhe foi atirada no chiqueiro, e berrou histericamente:
- Cala-te! Cala-te, Francisco! Senão te parto ao meio! E esbofeteou a cara do filho por diversas vezes.

LACORDAIRE
      Venho, meus amigos, trazer o meu auxílio para ajudá-los a caminhar corajosamente na via do aperfeiçoamento em que entraram. Somos devedores uns dos outros e somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os Homens é que esse melhoramento será possível.
      O apego aos bens terrenos é um dos maiores obstáculos ao adiantamento moral e espiritual do homem. Pelo desejo de possuírem esses bens, destroem seus sentimentos de afetividade e colocam suas energias inteiramente na conquista das coisas materiais. Sejam sinceros: a riqueza proporciona uma felicidade sem problemas? Quando os cofres estão cheios, não existe sempre um vazio no coração? Será que no fundo dessa cesta de flores não existe sempre um réptil escondido? Deus aprova e considera muito justa a satisfação sentida pelo homem que, através de um trabalho honrado e constante, consegue sua fortuna. Porém, dessa satisfação a um apego que absorva todos os outros sentimentos e provoque a frieza do coração existe uma distância tão grande quanto a que espera a mesquinhez do esbanjamento, dois vícios entre os quais Deus colocou a caridade, santa e salutar virtude, que ensina o rico a dar sem orgulho para que o pobre receba sem humilhação.
      Quer a riqueza tenha vindo de família, quer tenha sido adquirida pelo trabalho, existe uma coisa que não devem esquecer nunca: tudo o que vem de Deus retorna a Deus. Nada, na Terra, pertence aos homens, nem mesmo o corpo que usam: a morte os liberta do corpo como de todos os bens materiais. Considerem-se como aqueles a quem foi confiado um depósito; por isso, não são proprietários, não se enganem. Deus emprestou a vocês e devem Lhe restituir, pois Ele empresta sob a condição de que pelo menos o supérfluo reverta em favor daqueles que não tem o necessário.
      Quando um amigo empresta um dinheiro, mesmo que vocês não sejam honestos, existirá sempre a obrigação de devolver o empréstimo e ainda ficarem agradecidos. Essa também é a posição de todo homem rico, pois Deus é o amigo Celeste que lhe emprestou a riqueza. Ele não pede nada além de amor e reconhecimento, mas exige que o rico dê aos pobres, que assim como ele, também são Seus filhos.
      Os bens que Deus confia aos homens despertam uma ardente e louca ambição em seus corações. Ao se apegarem loucamente a uma riqueza, tão perecível e passageira quanto o corpo que utilizam, esquecem que um dia terão de prestar contas ao Senhor do Ele lhes emprestou. A riqueza lhes impõe o título de ministros da caridade na Terra, e terão que distribuí-la com inteligência. Quando utilizam a riqueza em benefício próprio, tornam-se iguais àqueles a quem foi confiado um depósito e dele não souberam cuidar. O esquecimento voluntário dos deveres se acabará com a morte, que rasgará o véu debaixo do qual se escondem. Então, terão que prestar contas até mesmo para com aquele amigo esquecido, que um dia os ajudou e que, nesse momento, se apresenta diante de vocês com a autoridade de um juiz.
      É em vão que na Terra procurem se iludir, chamando de virtude o que frequentemente não passa de egoísmo. O que chamam de economia e previdência não passa de pão durismo e ambição vaidosa. O que chamam de generosidade, não passa de esbanjamento em favor próprio. Ao deixar de fazer a caridade, um pai de família economiza, junta ouro sobre ouro e diz que tudo isso é para deixar seus filhos com a maior quantidade de bens possíveis, evitando assim que eles caiam na miséria. É muito justo e paternal e não se pode censurá-lo por isso, mas será esse o único objetivo a orientá-lo? Não estará ele, muitas vezes, se desculpando para com sua própria consciência? Justificando aos próprios olhos e aos olhos do mundo o apego pessoal aos bens terrenos? Admitindo-se que o amor paternal seja seu único propósito, será isso motivo para esquecer seus irmãos perante Deus? Se ele mesmo já tem o supérfluo, deixará seus filhos na miséria, só porque terão um pouco menos desse supérfluo? Não estará ele dando uma lição de egoísmo e endurecendo o coração de seus filhos? Não estará ele desestimulando-os a praticar o amor ao próximo? Pais e mães, vocês cometem um grande erro acreditando que desse modo conseguirão maior afeição de seus filhos. Se eles são ensinados a serem egoístas com os outros, também serão com vocês.
      Quando um homem acumula bens pelo suor de seu trabalho, ouvimos dizer frequentemente:" Quando o dinheiro é ganho com esforço, sabemos lhe dar o valor." Nada pode ser mais verdadeiro. Se esse homem que diz conhecer o valor do dinheiro, fizer a caridade segundo suas possibilidades, terá um mérito muito maior do que aquele que já nasceu rico e desconhece as difíceis fadigas do trabalho. Porém, se esse homem que recorda do esforço e do sofrimento que passou para adquirir sua fortuna, se tornar egoísta, insensível para com os pobres, será bem mais culpado do que aquele que já nasceu rico. Porque, quanto mais cada um conhece por si mesmo as dores ocultas da miséria, mais deve se empenhar em ajudar os outros.
      Infelizmente, o homem de posses sempre carrega consigo um outro sentimento, tão forte quanto o apego à riqueza; é o sentimento do orgulho. É comum ver-se o novo rico importunar o infeliz que implora sua ajuda, com o relato de suas obras e suas habilidades. Em vez de ajudá-lo ainda lhe diz:" Faça como eu fiz". Em sua opinião, a bondade de Deus em nada influi para que ele conquistasse sua riqueza. O mérito cabe somente a ele. Seu orgulho lhe coloca uma venda nos olhos e lhe tapa os ouvidos. Apesar de toda a sua Inteligência e capacidade, não compreende que Deus pode derrubá-lo com uma só palavra.
      Desperdiçar a riqueza não significa desprendimento dos bens terrenos; é, antes, descaso e indiferença, fugir da responsabilidade. O homem, como administrador desses bens, não tem o direito de esbanjá-los ou usá-los em benefício próprio. O gasto irresponsável não é generosidade; é quase sempre uma forma de egoísmo. Aquele que esbanja ouro para satisfazer uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um auxílio. O desprendimento dos bens terrenos consiste em dar à riqueza o seu verdadeiro valor, em utilizá-la em favor dos outros e não somente em benefício próprio, em não sacrificar por ela os interesses de vida futura. Desprendimento dos bens terrenos também consiste em perder à riqueza sem reclamar, se Deus assim julgar necessário. Se, por uma infelicidade inesperada, ficarem como Jó, digam o mesmo que ele:" Meu Deus, o Senhor me deu, e o Senhor me tirou, que seja feita a Sua vontade."Eis o verdadeiro desprendimento.
      Sejam, antes de tudo, submissos. Tenham fé n'Aquele que, assim como deu e tirou, pode devolver. Resistam com coragem ao abatimento, ao desespero que paralisa as forças. Nunca esqueçam que, ao lado de uma prova difícil, Deus sempre coloca uma consolação. Existem bens infinitamente mais preciosos que os bens da Terra e esse pensamento os ajudará a se desprenderem deles. Quanto menos valor derem a uma determinada coisa, menos sensíveis ficarão em relação à sua perda. O homem que se apega aos bens da Terra é como uma criança que apenas vê o momento presente. Aquele que não se apega aos bens terrenos é como o adulto, que vê somente as coisas mais importantes, pois compreende as palavras proféticas do Salvador:" O Meu Reino não é deste mundo."
      O Senhor não solicita a ninguém para que se desfaça daquilo que possui e se torne mendigo voluntário porque, nesse caso, essa pessoa seria uma carga a mais para a sociedade. Agir desse modo é compreender mal o ensinamento do desprendimento dos bens terrenos. É, antes, outro tipo de egoísmo, pois esta pessoa estará fugindo à responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre os ombros de quem a possui. Deus dá a riqueza a quem Lhe parece ser bom para administrá-la em benefício de todos. O rico tem, portanto, uma missão que ele pode tornar bela e proveitosa para si mesmo. Rejeitar a riqueza quando é dada por Deus, é renunciar ao bem que se pode fazer administrando-a com sabedoria. Saber viver sem a riqueza quando não a temos, saber empregá-la utilmente quando a possuímos e saber sacrificá-la quando for necessário é agir de acordo com a vontade do Senhor. Aqueles que recebem uma boa fortuna devem dizer:" Meu Deus, o Senhor me enviou uma nova tarefa, me envia também as forças para desempenhá-la segundo a Sua santa vontade".
      Eis, meus amigos, o que eu queria ensinar quanto ao desprendimento dos bens terrenos, e resumirei dizendo: Aprendam a se contentar com pouco. Se forem pobres, não invejem os ricos, pois a riqueza não é necessária para a felicidade. Se forem ricos, não esqueçam que seus bens lhe foram confiados e que terão de justificar o emprego que fizeram deles, como quem presta contas sobre um empréstimo recebido. Não façam como aquele a quem foi confiado um depósito e dele não soube cuidar, fazendo com que servisse apenas para a satisfação do orgulho e da sensualidade. Não se julguem com o direito de aproveitar, somente em benefício próprio, a riqueza recebida: ela não lhes foi dada e sim emprestada. se não sabem fazer com que ela frutifique, não tem o direito de pedir. Lembrem-se de que aquele que dá aos pobres salda a dívida que contraiu com Deus.

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