sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Mendicância

Bom dia irmãos, o assunto de hoje é complicado e eu não queria estar falando sobre isso porque tudo o que eu disser daqui para frente será uma hipocrisia, mas vamos tentar nosso melhor.

Hoje eu saí para pegar a cesta-básica que minha mãe recebe todo mês da empresa, e por não ter lugar para estacionar o carro na avenida eu vou a pé puxando um carrinho de feira. No caminho eu notei um velhinho, com uma panelinha pedindo moedas. Passei na ida e na volta e não dei nenhuma moeda por três motivos, dois eu inventei agora e o outro é de ordem espiritual, que gostaria de estar discutindo agora.

Se você ficou curioso, os dois motivos idiotas que eu inventei são: Minha carteira é difícil de tirar do bolso da calça Jeans, ela enrosca. O segundo é que esse velhinho faz "ponto" nesse mesmo local a mais de 1 ano, então pensei comigo "o ponto deve ser bom, senão fosse ele teria tentado outro lugar".

Mas o motivo mesmo porque não dei moedas ao velhinho foi o que aconteceu comigo a uns anos atrás, quando eu estava em São Vicente procurando um apartamento para minha mãe comprar. (Eu avisei que a história era hipócrita, mas por favor continue lendo.) Eu estava de carro na fila para cruzar a ponte suspensa (a ponte mais antiga do Brasil, só passa um carro por vez). Vários vendedores de doces e artesanatos passavam e ofereciam seus produtos. Eu recusei, tava muito calor para doces. Passou uma mendiga, gordinha (grávida?) e dei uma moeda que tava no cinzeiro do carro, troco do pedágio (O governo é o maior mendigo de todos, pede, pede, pede, e não serve para nada). O vendedor que testemunhou a cena, veio falar comigo, muito educadamente:

" Amigo, não desperdiça suas moedas com essa daí não. Todo mundo aqui tem família e trabalha, fazendo doces e artesanatos, nós prestamos serviço. Essa mulher não serve nem como prostituta, ela se enche de filho e quando não consegue homem vem pedir na ponte."

Então, daí me deu uma luz, sabe quando você sente que dois estão conversando mas três estão presente? Senti que o rapaz disse aquilo do coração, com uma inspiração além deste mundo, e eu percebi uma coisa. Aquela mulher é sim uma coitada que precisa de nossa caridade, mas ela ainda estava presa no seu vício da luxúria, ela era uma viciada em sexo que não se protegia nas relações, e depois acabava arrumando essa confusão toda na vida dela. Pensei nos outros mendigos, que não são poucos nessa região do Brasil, e vi que muitos são escravos de um ou outro vício, principalmente cachaça. Percebi que outros sofrem distúrbios mentais e de comportamento, mas recusam abrigo quando são oferecidos, como se a alma atormentada deles buscasse penitência pelo sofrimento.

Perdão meu Senhor, Deus Pai, Jesus Cristo e Padrinho São Francisco de Assis pela minha soberba e hipocrisia, mas nesse momento da minha evolução aqui na Terra, é isso que meu coração sente e sei que ainda não aprendi o verdadeiro significado da caridade, aquele que não envolve dinheiro. Dinheiro não é caridade porque ele nunca é suficiente, quanto mais dinheiro você tem, mais dinheiro lhe falta ter. Aqueles que mais tem, são os mais necessitados de ti, Senhor.

E o que eu acho dos mendigos é o seguinte. Eles AINDA, nesse momento, não podem receber dinheiro. Eu sei, não faz sentido mas é o que eu aprendi com essa história. "Mas Danghetti, sem dinheiro o cara morre!", Sim e não. lembremos que a morte não é o fim, e quando for a hora, então chegou a hora. Mas estamos falando de alma, não de corpo. A alma tormentada pelo vício precisa do dinheiro para sustentar sua escravidão. Nesse ponto acho que eu não estaria sendo hipócrita se eu dissesse que a verdadeira caridade é A LIBERTAÇÃO DOS VÍCIOS DO CORPO.

E depois que o mendigo vence seu vício, e agora? Agora é hora do resgate da dignidade. A imprensa inventou um termo que não é o melhor, mas serve a seu propósito. MORADORES DE RUA, são pessoas abaixo da linha de pobreza, que tem muitos problemas mas uma diferença que os torna "mais evoluídos" que os mendigos é que o morador de rua consegue trabalhar. Eles podem catar latinhas de alumínio para reciclagem, papelão, vidro, ferro, cobre, ou alguns ainda podem ser chapa de caminhão ( o ajudante que carrega e descarrega). Alguns moradores de rua tem famílias, casados e com poucos filhos. Esse é o início da dignidade humana, e se seu dinheiro está desesperado para pular fora da carteira, são eles que você deve procurar.

Moradores de rua solteiros, e sem vícios, podem ainda ser acolhidos por alguma instituição de caridade. Quando pensamos em instituição, lembramos somente do orfanato. É claro que as crianças são inocentes e devem mesmo estar no topo da nossa lista da caridade, MAS, não podemos nos esquecer dos adultos. Existem instituições de idosos abandonados, deficientes mentais abandonados, recuperação de viciados químicos, eu já vi até uma instituição africana para mutilados por minas terrestres que perderam as duas pernas. A palavra chave aqui é LEMBRAR.

A caridade começa com você lembrar do sofrimento do seu irmão, e buscar uma forma prática de aliviar seu sofrimento. Por isso é tão difícil aliviar o sofrimento do mendigo, porque na verdade, a única forma do mendigo se aliviar é permanecer no vício, assim você estaria fazendo o oposto da caridade. E lembrei outra história, se não estou enganado foi minha avó que contou.

"Eu passei muita raiva com esse mendigo uma vez, e nunca mais dei atenção a ele. Você acredita que uma vez ele veio pedir água aqui, eu dei pra ele água e ainda ofereci um pão com manteiga e café com leite, ele pegou da minha mão e jogou tudo no chão, e saiu xingando?"

Pois é, essa lição eu aprendi no meu trabalho. Não devemos ajudar as pessoas que NÃO pedem ajuda, porque elas sofrem do pecado do ORGULHO. Quando você oferece, ela fica tão ofendida que começa a te tratar como inimigo. Não devemos oferecer a religião aos viciados nesse mundo material, porque eles acham que um templo gigante vale mais que tudo que eu escrevi aqui.

Vou ficar por aqui, esse assunto é muito chato, e eu queria tornar esse blog mais leve e alegre. Semana que vem prometo um assunto mais alegre. Abraços, fiquem com Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário